"(...)Meu único dilema é que escrever dói. O branco do papel ou da tela dá espaço a um cérebro atordoado de ideias. É muito doloroso agrupá-las. Queria, talvez, acordar um dia sem precisar rascunhar-me do avesso. Pegar meu café, tirar os farelos do pão de cima da mesa e viver. Abrir a porta de casa e fechar a porta dos pensamentos. Permitir-me a displicência de uma moça de vinte e poucos anos. Mas nasci condenada a soprar uma ferida que não cicatriza. A ficar aqui, comigo mesma, numa profundidade que não permite qualquer invasão. Eu tô sempre só e, ao mesmo inexplicavelmente, pública. É que as palavras têm essa mania de saltar de mim e não me permitir o simples anonimato dos pensamentos alheios.
E há quem ache glamouroso tudo isso. Eu sei lá. Acho que eu poderia, quem sabe, ter, simplesmente, nascido boa em matemática".