Percorriam olhos, lugares, espaço, não deixavam rastros, me espalhavam por ai discretamente entre uma leitura e outra. Eu vivia nas palavras espalhadas pelas suas asas.
Existiam coisas das quais eu nunca saberia dizer, por mais que eu pensasse exatamente em como elas são, em como os olhos percorrem os outros, como eles se buscam, como eles se esbarram, como o tempo os perde. Eu não sei falar de olhos, acho que eu nunca acreditei em olhos que não fossem os meus. Mas a verdade, voadora ou não, escapada ou não, secreta ou não, é que essa vida sempre me deixou na beira do mar da janela, sempre olhando um horizonte paradisíaco de uma cidade suja, sempre me proporcionou as músicas tão mais lindas dentro dos ônibus cercados e abarrotados de gente. Eu sabia que no simples eu era plena, nunca tive essa tamanha intimidade com o simples como tenho agora, como venho aprendendo que, de fato, as borboletas não vão tão longe carregando as minhas, de fato, não tão verdades. E quem seria eu se não uma não tão verdade?
Era um desequilíbrio harmonioso este em que eu me achava, na verdade, me perdia! Era delicioso trepidar no vento, ameaçar cair... Perceber a leveza das palavras que sempre voaram comigo, na verdade, bem verdade, é que elas eram as responsáveis por me fazer voar. Às vezes eu batia na janela da intolerância, e outras eu tive que desviar das portas fechadas, há tanta gente que se esconde em teorias dogmáticas da sua própria vida, fecham-se ao simples e almejam uma felicidade semi pronta, estereotipada, como um prato congelado que fica três minutinhos no microondas e... Ah! Ai está sua felicidade instantânea, perfeita... Mas alguém precisava dizer às pessoas que o prato acaba. Que da mesma rapidez em que chega, ele se vai, e que felicidade é essa que tanto buscamos e que se vai? Felicidade se vai?
E então as palavras podem responder a mim que ela não existe. Que é tolo quem perde, entenderam? P e r d e a vida em busca de perfeição, de infinidade. O que te torna feliz é o distrair. É o deixar, levar. Note-se. Olhe pra si e tente ver o mundo e, se esse mundo não é lindo como queria que ele fosse, conserte a si mesmo e quem sabe teus olhos estarão tão limpos que poderá ver por trás da fumaça uma nuvem, um sol, um dia quente, a chuva, as flores... Quem sabe seus olhos estarão tão limpos que verás teu coração vazio e procurará guardar esse mundo dentro de si. Não o torne feio, não se encha de algo que se denomina feio. Nós somos a felicidade que buscamos, dentro de uma certeza de que não somos meias verdades.
Eu continuo aqui me enchendo aos poucos de palavras, ou talvez me esvaziando destas... As borboletas voam e me deixam por ai.
Você pode me guardar um pouco?