terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ondas, sonho e um amor eterno


Abri a janela e respirei bem fundo o ar úmido que a chuva trouxe pela noite. Era manhã de sexta-feira no paraíso.

O sol arriscava riscar com seus raios minha pela tão clara, que logo se sentia viva novamente. E de longe se erguia o vento fresco que balançava as redes, derrubava os rodos, sacudia as roupas nos varais, moviam o meu cabelo e meu vestido.

Da mesma janela eu podia ouvir o som das ondas, e das pegadas do amor que havia acordado.

- Bom dia! - disse o amor pra mim. Então eu sorri e o abracei como se nunca mais fosse senti-lo.

Peguei-o pelas mãos, entrelacei meus dedos aos seus, como fazíamos há décadas. E seguimos os sons das ondas...

O sol já estava no ponto mais central do céu, sobre nossas cabeças, cabeças tão cheias de problemas. Mas naquele momento eu só queria esquecê-los.

Era como se a areia infiltra-se pela minha pele, corresse junto com o sangue por todos os vasos do meu corpo. Sentia-me parte daquele lugar, e aquele lugar era como meu espírito.

E o amor do lado só me completava. Eu poderia morrer debaixo de tal sol. E o pó que eu me tornaria seria levado com o vento... E no outro dia, o amor iria abrir a janela. E ao respirar bem fundo, me levaria pra dentro de seus pulmões. Eu, que sempre estive onde você habita, onde você sonha, onde você vive, só preciso descansar dentro de você quando minha hora chegar.

Eu, que vivi dentro do seu músculo miocárdio, e tive que lutar tantas vezes pra que ele não parasse, hoje só preciso que você prometa me respirar. Prometa se lembrar de mim. Prometa não mudar o paraíso, não se mudar do paraíso.

Sinto que o abraço no amor foi sim minha despedida. Não que eu vá embora hoje, talvez não.

Mas se o despedir e reencontrar são tão ímpares e únicos nas nossas vidas...

Adeus!

Até daqui alguns segundos.

E se a eternidade realmente quiser me levar,

Respire fundo, amor.

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