segunda-feira, 5 de julho de 2010

Cova viva




De tanto sentimento, tenho rios incontestáveis de lágrimas frouxas e jardins imensos de sorrisos, largos e espalhados, recebendo todo ar arejado da humanidade. Tenho sido carne viva de verdade, meu coração tem andado na palma da minha mão e ele tem luz, tem voz e sabe falar.
Por haver perdido tantas vezes o caminho, constatei que às vezes perder-se é encontrar-se.
Gosto de falar de mudança por ser eu mesma o tempo lá fora: efêmero, fugaz.
Fazia um sol caloroso e, de repente. Ponto e vírgula. De repente! Chuva no chão. Era eu, sinto. Eu havia chorado novamente.
Tenho em mim o despertar provisório dos sonhos. A realidade me cansa e me dá o abrigo nada seguro do ilusório. Eu me viro entre a terrível limitação de não poder ser sonho também.
Às vezes o que dói na realidade é o que se constrói com as próprias mãos, são os rumos que nossos próprios pés guiaram, os personagens que somos e nós mesmos forjamos, dói saber que não podemos ser um só a todo instante. Porque o homem é a mistura dos sentidos e os sentidos se misturam e se distribuem igualmente entre os homens. Em alguns, muitos sentidos adormecem, mas se há de convir que na vida não importe quanto sentidos se tenha, às vezes as coisas não farão sentido. Eu e todos os eus então chegaremos a conclusões diferentes.
Às vezes peso tanto que não me sustento, outras pareço tão leve que não me prendo. Outras vezes digo incansavelmente tudo que minha alma abriga, outras o silêncio me é conveniente. Ora sinto e ouço som de estrelas, ora não tenho inspiração para escrever uma linha se quer sobre mim. Porque às vezes adoro ver-me perdida em meio a mim e aos outros, e o desconhecido me é excitante em meio à mesmice.
Vejo e enxergo com os olhos, e toco lábios apenas com o coração. Não me deram linha reta para seguir, nem ao menos orientação. Jogaram-me nesta cova viva e aberta, e mandaram-me fugir, e cá estou na luta. Porque há em mim metade dos segredos do mundo, e a outra metade, não me é mais segredo algum.

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