domingo, 4 de julho de 2010

Monólogo




Eu vou estar de pé quando o inverno chegar ao fim, e disso não tenho dúvidas. Andei fincando raízes para poder esperar o vento passar, o meu próprio sopro.
Vou estar pronta para quando for a hora de te deixar partir, terei a certeza do teu caminho ao olhar pra trás, eu sei, eu sei tanto e isso só traz a minha dor.
Mas veja, eu descolori um mundo inteiro para disfarçar a minha tristeza momentânea, mas eu adoro as cores que ando usando para repintá-lo. A fraqueza é apenas uma circunstância, perpetuá-la é apenas uma condição, se submeter a ela é apenas engano. Eu não vejo mais saídas por becos estreitos de saudades, hoje vejo apenas ruas largas, mar, eu vejo o mar! Ah, quanto tempo!
Eu vou estar de pé quando a primavera apontar no horizonte. Eu terei secado as minhas lágrimas transparentes, invisíveis. É em meio às flores que eu vou buscar o meu esquecimento, a minha idolatrada amnésia, o meu fardo perdido em meio aos dias.
Vou ver despontar as flores e os teus pés pelo caminho, já não terei motivo algum para seguir teus passos, como ando fazendo ainda.
Mas veja, está tudo tão colorido que eu me camuflo nas flores, e eu adoro colhê-las!
Sinto que o ar nunca foi tão leve, e eu o prendo dentro de mim como forma de me reabastecer de uma leveza que eu perdi ao te perder. Entenda, eu já não sou a mesma, e de fato sei que o mundo inteiro mudou. Hoje, ao olhar para mim, no sopro de cada sim, uma certeza: nada restou.

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