sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Remetente

Era uma canção sem som, um mundo sem céu, um dia sem sol. Era a cor violeta que fugia das flores e corriam pra dentro dos meus olhos, tão perdidos e tristonhos. Eu havia jogado tanto sentimento pela janela e esquecido que o mundo não havia terminado, eu iria usá-los novamente amanhã.

Era um coração fosco, fundo e resistente, e um sopro que fugia dos lábios como um grito de socorro perdido, era como se a minha vida contasse a mim os seus segredos e me tirasse todos os enigmas para que eu não pudesse desvendá-los.

No mundo inteiro era eu e eu, eu por mim. Eu estava forte como uma rocha e viva como uma flor. Tinha os pés nas nuvens e olhos no chão para não tropeçar sobre as palavras; Eu tinha uma voz que até ontem era baixa, mas hoje, ela gritava tão alto e tão gravemente o que eu não aprendi ainda a falar direito. Então tudo passou a ser assim comigo, feito um livro mal acabado, eu estava juntando os cacos e virando um mosaico tão repleto de luz, como um anjo celestial. Possuía nas mãos a cor do mundo e sobre meu peito todo amor que pude um dia dar. O amor havia voltado para mim. Como uma carta que se perde no correio, o amor, às vezes, extravia.

Mas amor é pertencente a um só. Você não pode dá-lo eternamente, porque ele se dissipa e rapidamente gera frutos, e fruto de amor sem dono é fruto velho, podre. Dá-lo a alguém que cuide, regue, é torná-lo fértil, frutífero. É saber que irá resplandecer sobre o tempo os seus novos frutos, e perseverar nas más e boas colheitas.

O mundo não acaba na beira da estrada, há sempre uma linha do horizonte bem mais longe do que os olhos possam ver. Ver algo que hoje parece arruinado não é motivo para tentar reconstruir a beleza do que um dia foi. Não há certeza de que o belo um dia voltará a reinar, mas sim que aquilo que ruiu, um dia também foi belo. E isso sim é eterno.

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