sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

UVA

Fechei atenta e fortemente os olhos. Eu quis navegar para além da minha realidade, realidade esta que, por vezes, me doía tanto, como se houvessem espetado um punhal em minha alma por eu ter cometido o crime descompensado de amar alguém.

Eu estava só e tão fraca, pela primeira vez os olhos abertos nada me mostravam, eles revelavam apenas o vácuo que era o meu derredor, e a culpa de todo o vazio era da minha insanidade, a insanidade de amar alguém.

O mundo não tinha mais som. E eu gritei - Ah, e ninguém me ouvira!

Sem toda a razão eu tinha os olhos fechados para ver o meu sonho de perto, eu podia tocá-lo, ver cada célula, mas ele não podia ser meu, como o sol, de fato, não pertence à Terra. Este amor era como o sol, eu vivia porque ele existia, mas não podia me aproximar demais, pois este mesmo me mataria.

Foi então que um clarão tão forte parecia cegar-me, mesmo com os olhos fechados. Doce ilusão, quem nunca teve uma?

De olhos fechados eu vejo tudo que não se vê, eu transpiro todo veneno do mundo como se meu corpo abrigasse tudo que quis ser e não fui, eu não fui o seu amor ainda, você abriu as mãos e eu cai. No chão.

Não, não sofri pela queda. Sofri por não mais tocar suas mãos. E não foi por nenhum abandono, foi por saber que mesmo aqui onde estou, ainda estaria ai contigo.

Desde então encontro-me partida. Em cacos, desmontada, como um velho jogo antigo.

Não havia mais ninguém para jogá-lo. Na verdade, muitos jogadores se submeteram a tentar, mas todos percebiam que neste velho jogo faltava uma peça.

A velha peça de amar alguém.

O ato mais ilícito, delicado, estúpido. A fonte mais incoerente de se ter valor, o momento em que mais nos aproximamos de Deus, do céu.

Bem, queremos apenas poder tocar o Sol, por tanto vislumbrá-lo, e por isso perdemo-lo.

Nem sempre o toque e a presença te provam a proximidade entre um par de pessoas e um único sentimento. A distância também protege do sol. E aquece.

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