quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Treze de julho


O vento estava em sua direção. A menina corria contra ele, deixando voar todos aqueles cachos, escuros em cima e mais claros nas pontas, bem delineados como se fossem feitos com as mãos. Mãos de Deus.

Havia uma borboleta quase ao seu alcance, era ela que a menina almejava tocar, saltava e corria, pegava impulso, mas era em vão. O dia estava completamente azul, havia uma ou duas nuvens bem claras no céu, uma se parecia com uma jarra de suco e a outra uma maçã. Era uma manhã como há muito tempo não se via. Seu vestido lilás não podia sujar – era essa a recomendação de sua mãe, que sempre a vestia como uma princesa pela manhã.

A menina sentou-se debaixo de uma árvore, acredito ser uma mangueira. Seus cachos estavam caindo pelo rosto e se umedeciam com o suor. Uma respiração ofegante, de tanto correr e pular, correr e pular e repetir essa seqüência incansavelmente a fim de alcançar a borboleta tão esperta e arisca. Sua exaustão logo a fez descansar as pálpebras, por um instante apenas. Sentiu então um toque, como se um pedaço de nuvem do céu houvesse caído em sua bochecha. Era ela! A borboleta que não tinha nome, que aproveitou a sua distração para repousar. Então a menina abriu devagar os olhos, e continuou imóvel. Ali estava ela, doce e colorida, a mais bela de todas as borboletas até então vistas por ela. Mas ela não podia tocá-la, caso contrário, ela fugiria.

A menina não conseguiu conter toda sua inquietação e moveu uma de suas mãos. Era apenas um abraço, oras! Ela voou. Está no céu, ao lado do jarro de suco e da maçã.

Então com a cabeça baixa e os olhos ainda espantados com o que havia acontecido, a menina cheia de cachos sentiu necessidade de continuar correndo. Tudo aconteceu tão de repente, como se a asa da borboleta ainda estivesse pousada sobre ela, fazendo cócegas.

Ela correu, correu... a menina corre até hoje. Jamais se viu aquela borboleta por aqui, há pessoas que dizem que, de vez em quando, outras por aqui voam, mas a menina não acha mais graça em caçar borboletas.

O desejo de ter às vezes compromete nossa visão. A menina já não via mais nada, a não ser a noite escura e as estrelas, todas com nomes, no céu. Havia também a lua, era linda e iluminava o quarto enquanto a menina se deitava noite a noite, toda noite que se pegava pensando no vôo da borboleta. Então ela sonhava, e era ali que o abraço era dado, que ela tocava em suas asas e coloria todo seu corpo, virava borboleta também. A manhã sempre chega, talvez não tão bela como aquela manhã... Aquela já não existe mais.

A menina já não existe mais.

Hoje há um rastro de lembrança, há o doce deleite da dança de uma borboleta que não volta.

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