sábado, 2 de janeiro de 2010

17:59


Hoje eu acordei com uma gota a mais de saudade. Aqueles dias que ficaram para trás vivem se jogando na minha frente, sorrindo um sorriso quente que podia me queimar de tanta alegria, assim como tudo parecia antes, tão alegre.

Pelo caminho eu vim catando um bando de sorrisos, era um coletivo sem fim, eram todos meus por posse e direito, aprisionados dentro de um coração que os abrigava, os amava, de fato.

Hoje eu acordei com as vozes deles em meu ouvido. As vozes não saíram de mim ainda, elas permanecem em movimento, como uma festa, as suas palavras ainda estão no ritmo do meu coração, que já não bate tão acelerado como naqueles dias.

Eu havia deixado muito de mim em cada um deles, eu fiz questão de me desfazer e despir cada segredo que em mim havia, eu tornei-me completamente parte de um todo, onde todos eles me bastavam.

Hoje eu acordei com a força de um velho abraço, era tão forte... Ele sabia como acalmar a angústia que aqueles dias me geravam e deixar-me leve, sem peso algum, e vinha sempre acompanhado de um olhar que me entendia e que se transportava pra dentro de mim, por um momento era como se eu soubesse que o dono do abraço tão forte, era fraco como eu.

Então da nossa união surgiu a força. Até hoje é com ela que eu me sustento, que eu caminho e olho em frente, mesmo sem conseguir enxergar tão bem quanto antes.

Hoje eu acordei com a sensação de que havia alguém bem juntinho de mim, fazia quase parte de mim, e alguém com quem eu me identificava, que eu carregava na palma da mão, como uma pequena joaninha para proteger de qualquer mal. Ela era inquieta, e porque tinha asas, queria alçar grandes vôos, e aaaai dela se não conseguisse. De tanto se esforçar para conseguir se libertar e voar, ela cansou de ficar tonta em minhas mãos, sem direção alguma. Para a minha felicidade, ela estava comigo, e nos protegíamos de nós mesmas, como se um dia pudéssemos fugir de nós, para enfim, vivermos tudo que sonhamos e passamos a amar naqueles dias.

Hoje eu acordei com uma risada escancarada que, confesso, me assustou. No fundo eu sabia que o sorriso era da proporção das aflições e dos medos, mas que ele era muito mais belo por esse motivo, pois ele vinha regado de esperanças no amanhã, como um capítulo de novela, ele era completamente único e surpreendente, porém, nada comparado àqueles dias.

Hoje eu acordei com um beijo ainda presente, como se fosse dado há segundos antes de eu abrir os olhos. Talvez fosse culpa de todo o calor que ele provoca, e de todo desejo de que ele permaneça aceso, como uma chama, e que ele ainda gere muitos e muitos outros. Aquele beijo talvez fosse o marco de que ainda seríamos tão felizes como naqueles dias.

Ah, aqueles dias que se foram, que voltam de vez em quando obstruir as barreiras da distância inevitável dos nossos corpos. A saudade se torna um novo membro de nosso corpo, onde podemos nos juntar novamente. As fotografias falam muito sobre a gente, elas gargalham das nossas lágrimas, vozes, abraços, beijos... Elas guardam nossos segredos.

Hoje eu acordei com a saudade quase vazia, todas as gotas já haviam sido derramadas. E então eu lembro que ainda é noite e que o dia está para acabar, mas ainda não acabou. Falta pouco... tão pouco e há tanto silêncio agora que dá para ouvir o som do ponteiro do relógio, anunciando um novo o dia por vir.

Aqueles dias, de fato, não voltam. Mas durante a noite eles ainda farão parte dos meus sonhos dormindo. E quando um novo dia nascer, eles ainda serão parte da minha realidade acordada.

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