Rabisco, rabisco, rabisco. Eu vivo presa em todo risco. Caricato, eu vivo de ato, eu sou quase um rascunho espalhado de dez páginas vazias, como a neblina. Eu desenho um rosto sem foco, perco o esboço para pintar o fim de cada segundo, e tudo que sou é parte do abstrato do mundo.
Vejo os dias pintando vales, telas de aquarelas que não são de ninguém. Os dias correm e cortam sentidos, nos tornam vivos e partes de alguém. A cor de cada sorriso é única, assim como os pássaros que vivem
Nunca vi habitar em mim sentimentos amenos, pequenos. Vi nascer e morrer a chamada esperança, eu a vi ainda criança querendo brincar.
Eu perco o passo de qualquer dança, sobrevôo o espaço, pego no ato cada qual segundo que vive. Eu vejo aqueles corações tão perdidos e inférteis, e temo jamais colori-los.
A vida então apaga alguns instantes.
A luz que há em mim não passa da cor do papel, tão branco, diante das minhas mãos. Ele me chama, linha por linha, e elas se molham da água que há nos olhos ao lembrar por onde andei pintando.
Todo risco, seja forte ou fraco, deve ser observado. Há graça nas mais simples coisas.
O meu caminho é transfigurado, como tinta de um pincel diluída em copo de água. Sinto que não importam quantas telas sejam pintadas, nem o motivo pelas quais se apagam os pequenos traços, a água sempre nos torna limpos como o pincel, assim como somente o tempo é capaz de transformar os mesmos pequenos traços em arte final.
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