sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Reviravolta


A tua vida é união de cacos, você se refaz como uma fênix diante de mim, que corro livre pelo tempo em busca de abrigo, como se meus olhos enxergassem além de um sonho qualquer.

Hoje eu desmonto as peças do antigo jogo, eu reabro um inquérito que me condena a ser eternamente parte de um sonho, eu adormeço e por vezes esqueço quem sou. E eu, eu sou como uma gota da tua velha vontade, o teu abrir de olhos na manhã ainda remota, com o cheiro de outra flor no jarro ao lado. Sinto que não há nada que se busque mais do que felicidade, mas se sabes o que tenho vontade, saberás que ser apenas feliz não me cabe. Eu quero o avesso de cada sentido, eu pareço com cada riso vivido e sei muito bem onde piso.

Já não demora tudo vai mudar. Já era hora - disse o relógio ainda confuso e embaçado, como vidro transparentemente quebrado.

Eu havia sido como um córrego, e me desfiz em mar para poder mergulhar o teu novo sonho. Era demais para mim ter que repartir a metade que já não me cabe, para que mais tarde, eu ainda possa sonhar com um inteiro. Há muito que se pensar e, eu sei, eu sei tanto sobre alguém de quem eu já não quero falar. Não por temer, mas por não ter mais voz diante da dor. Eu sei, eu sei. Eu nasci sabendo um monte de coisas irreais, e descobri diante do inexplicável a possibilidade de replantar cada folha arrancada de mim.

Mas há coisas que jamais se explicarão. As minhas palavras serão inúteis deparadas com o teu coração. Ele já não se abre para mim. É cofre fechado, sorriso rasgado, é boca borrada por outro carmim.

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