sexta-feira, 2 de abril de 2010

Meteorologicamente falando




Sei que ainda é outono. Posso perceber isto porque o vento vem me avisar toda manhã, às 6h. Ainda sinto congelar meus dedos do pé, que a essa altura, ainda estão dobrados e cansados dos longos dias. Abro a janela e puxo o mais violento e gentil oxigênio e o sinto penetrar em meus pulmões, dizendo – bom dia.
Gosto do outono. Não vejo nenhuma folha cair das árvores, mas lembro dos desenhos animados em que isso acontecia. Ando prestando mais atenção nos sinais da vida. Ando modelando-a devagar, pausadamente, sem pressa. O dia de amanhã, o tal porvir, é tão brilhante nos meus sonhos, que eu, sinceramente, tenho medo que chegue depressa. Estou viva. Viva! Nunca dei tamanho valor a essa pequena frase. Ela sempre me pareceu ter dois lados.
Mas hoje vou fazer um favor a mim. O lado negativo vai ser guardado por uns tempos, é hora de pensar no que há de azul do mundo.
Sinto o outono. No ar, no clima, nas mãos, nos beijos. Sinto que o tempo anda passando distraído, e minhas palavras andam frouxas aos ouvidos de quem as quer ouvir. O copo quente de café, o papel e a caneta tem sido meu melhor remédio ao tédio, e não mais aquela monotonia coletiva e ilusória que acreditam ser diversão.
Agora muitos sabem meu nome, gente até demais. Quero o anonimato novamente. Ele jamais voltará. Minhas palavras já estão sacramentadas nas linhas e nas rimas, e escrever tem me sido mais obrigação que prazer. Obrigação comigo mesma, como se eu fosse uma máquina e tivesse que datilografar todos os meus dias. Como se isso ajudasse os dias a passar.
Acho eu que o outono tem chegado ao fim.
Há mais frio agora que antes. O café já esfriou.
Mas os pecados ainda são os mesmos, ainda sinto aquela preguicinha aconchegante de girar o mundo, ando sendo levada demais...
Minha alma nunca foi tão quente, meus medos tão pequenos, e os meus sonhos... Tão reais.

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