sexta-feira, 2 de abril de 2010

Raiz


De tudo levo um pouco. Hoje mesmo estou levando um pouco do frio que faz lá fora pra dentro de casa. Preciso de companhia. Boa noite.

As coisas demoram muito a se enquadrar, e isso me incomoda, me irrita, desmorona. Ansiedade é um defeito estúpido e babaca que eu tenho.

Hoje estou leve e livre como o ar, mas presa a uma corrente de vento, que tem nome e sobrenome.

De repente tudo parece mais claro. Até o negro da noite.

As estrelas hoje estão mais brilhantes, a cama mais alta, e os olhos mais abertos. Hoje vou sonhar acordada em meio aos pontos brilhantes e aos anjos, e pobre daquele que resolver me acordar.

Continuo trilhando meus caminhos de forma espontânea. Na verdade esse é o nome bonito pra quem está perdido e ao menos sabe o que quer. Só tem uma coisa que eu quero e eu sei. Mas eu não preciso dizer, preciso?

Odeio pés no chão, mas os meus passam longe dos céus. Aquele meio termo ainda me incomoda, mas eu vivo ali naquele meiozinho de quem tem um sofá macio e muita, muita preguiça de agir.

Mas sou ágil. Porém às vezes ir devagar tem suas vantagens.

Tenho garras, sonhos e amor. Aprofundo-me cada vez mais em mim, e cada vez mais me perco dentro de um ser que pouco conheço, ou que adora brincar de pique - esconde comigo.

Não tenho medo de estar sozinha em casa enquanto tudo está escuro. É ali que eu viro estrela.

Mas tenho medo de estar só dentre o mundo, e não poder voltar a ser criança. Ah, como eu queria...

Mas viver de nostalgia só te deixa frustrado, porque você podia ter brincado mais, ralado mais seus joelhos, cortado de novo o cabelo do seu irmão mais novo, sumido por mais tempo como daquela vez, roubado no supermercado, cantado mais alto naquela homenagem de dia das mães daquele primeiro colégio... Você podia ter sido mais feliz, mas isso não vem ao caso.

O caso é que o passado vai ter sempre um gosto mais doce, e tudo vai parecer mais bonito enquanto lá morar. Menos as fotos e os cortes de cabelo.

Mas nessa vida só é preciso amar. O amor é a única máquina do tempo que engenheiro mecatrônico nenhum conseguiu inventar. É reviver os sonhos e catar no lixo as palavras que não deixou que escapassem e dizê-las como não disse antes. É abraçar o que falta e o que já se foi, nem que seja em sonhos. É colher os frutos podres e fazer um doce delicioso deles, e não é impossível. Não pra quem ama de verdade.

Porque a nossa vida é como árvore. Não por crescer aos poucos e dar frutos. Mas é pela resistência de se manter em pé, de dar sombra aos outros, de alimentar quem precisa. Somos humanos, e os frutos não são apenas nossos filhos.

Eles são aquilo que você aprende. Que você ensina.

E ninguém é capaz de inventar felicidade. Ela é um estado de espírito que pertence àqueles que não a buscam incessantemente e a idealizam de alguma forma. Ela está sim no passado, por mais cruel que ele tenha sido. Hoje você e eu estamos aqui, mas não nascemos aqui. Chegamos aqui. Comemore. Falta pouco.

Pouco pra que?

Talvez pra sua próxima meta, pro próximo dia. Afinal, já é noite e estou certa que daqui a pouco virá o sol.

Mas talvez falte pouco pra que você note que você é árvore forte, sozinha no mundo, mesmo tendo outras em volta, e é só você por si.

E você tem o direito a ser feliz.

Seja.

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