Sou perdida como a nota que sai da flauta, sou a leve brisa morna de um dia de verão, sou a pele mais remota de um anjo da estação, eu sou aquele clarão que cega, sou a espada e a seta que não mostram nenhuma direção.
Sou de vidro, sou de aço, sou completamente um pedaço, sou do circo, sou palhaço, sou o ingresso esgotado de uma noite de inverno embaixo de um abraço materno.
Sou a voz e violão, sou o tempero do feijão, sou o azedume do limão que quer salgar as nossas vidas. Atrevida, sou gigante, tenho voz de alto-falante, sou poeta militante dessa saga embriagante que é a vida. Sou partida, bilateral, sou o cheiro da flor do quintal de Deus, eu sou o velho barco na beira do porto dizendo adeus.
Sou o leve levantar do sol na primavera, sou menina, sou sinceramente tudo que é a gente e ninguém vê. Eu sou a cena de comédia na TV, sou a gota d’água que caiu lá da sacada e deixou o chão transbordado de amor. Eu sou a nuvem passageira, que avisa chuva forte ou o raiar do sol, eu só o pólen, sou os grãos, sou a verdade de toda face, eu tenho a voz tão pouco grave e sei dizer tudo que sei e não sei. Eu sou a pedra no caminho, sou o impulso do teu pulo, mas também sou o escudo dá tua dor. Sou a represa que carrega, sou a mulher que escorrega, eu sou as pedras do arpoador. Sou o silêncio de mãos dadas, sou o suor do nosso amor, eu sou o grito de todo prazer ou dor.
Sou cada passo, cada rima, cada gota cristalina
Sou as juras e os sonhos do amanhã...
Eu sou os olhos que escondem todo além de um horizonte,
Eu sei sorrir e sei chorar diante da dor.
Sou o lamento, sou o canto, sou o espanto e o terror
Mas também sei ser a beleza de cada dia que virá
E cada dia que passou.
Eu sou aquilo que do mundo restou. Sou todo e qualquer lugar, sou onde você está, eu sou a pétala perdida, eu sou do ar.
3 comentários:
Bonito, bonito.
Caracaaa, parece mesmooo! Que legal. Mas nada se compara aos seus textos né Marii?! Maravilhosooo. Ameiii.
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