Pois bem. O ‘eu te amo’ havia se tornado uma faca de dois gumes, talvez a última frase da minha lápide de vida. Eu o disse inúmeras, imensas, incansáveis vezes, e era como se a resposta fosse um eco, que no fim das contas, era promovido pelo impacto nas paredes de casa. A casa havia caído.
O dia então nasceu com lua. Eu havia passado a noite chorando sobre os cabelos e o travesseiro. As estrelas olhavam e riam, enquanto lançavam suas luzes para dentro dos meus olhos vermelhos e entreabertos. Tive muito medo de abri-los. Pela primeira vez não senti prazer em ser, em me ser, em ver meu reflexo inundado de lágrimas malditas e imundas, lágrimas tolas que rolavam sem sentido algum, pelo menos algum sentido que fosse válido. Passei os dias deitada no chão relembrando uma voz doce que eu nunca ouvi, e vivendo os dias que eu jamais hei de viver.
O ‘eu te amo’ havia mentido para mim. Era banal, estúpido. Eu fui crédula até onde pude, até notar que amar alguém se deve começar de si. O si que eu abandonei, abstrai. Vive pelo ‘eu te amo’, aquele mesmo que eu descobri ter sido somente um eco todo esse tempo.
Então eu levantei-me de uma vez só. Disse à mim mesma: tenho fé. Acabei aprendendo que fé não existe. Mas se eu contasse isso pra alguém ou para mim, ela não valeria de nada. A princípio eu descobri que a fé é o ato de querer ter fé. É olhar o impossível, saber ser impossível e acreditar que o impossível pode acontecer. A grande verdade é que a gente acredita que acredita nisso tudo. É daí que vem a fé. Por isso você deve exercitá-la. Ter fé não é acreditar no impossível. É ter a certeza de que tudo é possível.
Então eu me reergui, acreditei ter fé. Isso me enchia de ânimo, como se o sol tivesse nascido dentro de mim, e não lá fora. Ele então secou todo mar de lágrimas do chão e da alma, e eu as engoli saboreando uma caixa de morangos frescos. Eu não havia sido infeliz todo esse tempo, algo de bom havia acontecido depois que eu caí:
Eu aprendi a levantar.
Enquanto eu estive de pé, tive medo da queda, apenas pela dor. Mas no chão eu descobri que dói muito mais se levantar e às vezes os joelhos não agüentam.
Ainda morro de medo de escapar um ‘eu te amo’ onde não exista liberdade. Tenho medo dos sons que saem da alma colidirem com as paredes da cela ou da casa do egoísmo e do engano, e voltar a mim o eco vazio e imperfeito do ‘eu te amo’.
Cansei de ecos.
Mas talvez sinta falta de ouvi-los
Vez em quando.