Não sou compacta, nem simples. Não caibo dentro de uma caixa de regras e interesses. Sou do ar.Franca demais. Vivo por um triz comigo mesma, me agrido, me refugio do mundo, mas não o ignoro.Se não pareço demonstrar o que sinto? Sinto muito. Há muito em mim para se sentir. Prefiro os atos às palavras.Gosto de sabores improváveis, e vejo simplicidade como luxo para poucos. Das músicas, as letras geralmente me atraem mais que os acordes. Talvez seja o estúpido romantismo. E há quem não acredite...Meus dramas são anônimos, meus inimigos são personagens que eu mesma crio. Não tenho medo de nenhum confronto, com ou sem eles, sempre fui forte. Mas às vezes fujo como uma criança da briga na porta da escola e choro feito um bebê, mas apenas as paredes vêem.Não tenho paciência para gente efusiva. Acho até que a maioria das pessoas é hipócrita, que os amigos só são amigos até o limite da impessoalidade. Mas guardo comigo as estrelas que me cedem, até mesmo as discretas e pequenas que se intimidam com todo meu exagero.Tenho que tirar uma parte do dia para olhar pro ontem, ou pro amanhã. É quase um vício. Aproveito o trânsito lento, o fone nos ouvidos, e o pratico. Sinto saudades de coisas que não vivi. Amo ao extremo. E há quem não acredite...E se me encontrar sozinha? Não, eu não estou triste.Geralmente as pessoas acham graça das coisas que eu falo ou faço, e isso me diverte mais do que a elas. Talvez seja por isso que quando não estou fazendo caretas, vozes e até coreografias engraçadas, acham que alguém morreu. Costumo acreditar que um copo pela metade está meio cheio, e não meio vazio. Ser positivo te garante pelo menos o direito a fracassar e se sentir idiota. Às vezes isso é bom para se situar. Ainda acredito em amor eterno, mas já chega dessa história de príncipe encantado. Laquê nos cabelos e frufrus não me atraem como um careca bobo que me faz querer viver, me faz querer acertar, ser melhor pra que seja sempre, mas que me mata de cócegas, mesmo isso não sendo nada legal, ok?E sabe, mato um leão por dia. Sirvo a mim de companhia, mas não abro mão de estar com os meus. Escrever é minha terapia, e sou tudo e ao mesmo tempo nada que lêem em minhas poesias. Há várias de mim em uma só, talvez como Pessoa e seus heterônimos.Adeus nenhum me convence do fim. E mesmo as situações em que me vejo no fim da estrada já não me assustam mais. É necessário pés com vontade, coração e mente com coragem para que as estradas se formem. Ah, e de estradas eu entendo.
A lua dos poetas tem sabor de eterna ausência. Não é de pouco amor que o poeta faz sua frase É sim do muito que pra alguns se torna vaga lembrança, pois mesmo quando a alma se cansa, ele ainda dança pro amor ver. Pro amor ver que mesmo morto ele vive. Então esquece do rosto falso daquele abraço
...terno
E talvez o medo de desunir os corpos seja o fim do meu
...poema
E mesmo que o amor não se acabe, pode ser o começo do meu medo. Os nossos momentos se tornaram pra mim segredos, que não os guardo. É melhor calar um momento, do que gritá-lo pra que ele viva mais, e puxar a raiz fraca de tanta sentimento por temer voltar atrás. Então fico muda para poder escrever o que quero chorar. Mas se eu chorar, deixe as lágrimas te cantarem uma canção..
Hoje já não me importo mais com as faces que escondi por tantos anos, e nem me envergonho pelo eu que carreguei nas costas pela vida.
A poeira então desceu dos meus braços e revigorou em mim o bronze coberto pela sujeira de tanta lama que juntei na estrada.
Soprei lá do fundo do pulmão e libertei meus vícios, minhas angústias, minhas mágoas.
Nessa terra de gente que não perdoa eu lavei muito chão de ouro, e vivi muito tempo sob chão de barro, mas quer saber? Isso não era o que mais doía.
A dor mais intrigante era aquela sutil e pequena dor na alma. Dor da perda, da falta. Ah, essa sim doía muito!
Tive que admitir que nós viemos ao mundo sozinhos em nossos casulos, e isso me era perturbador. Era demais pra mim.
Queria que nessa vida eu pudesse habitar no peito de todos, fazer moradia perpétua...
Nunca fui cigana e tão pouco nômade, eu sempre me ancorei nos mares mais perigosos e acreditei até o fim que fosse bem-vinda.
E a ferida que se abre com sorrisos hipócritas é uma das chagas dessa dor da falta que atinge a alma. E pra que? Por quê?
É, vivi por isso. Até hoje não sei ao certo se as pessoas sentem necessidade de atuarem na vida, ou se a vida é uma grande peça pra poucos atores. Eu nunca soube atuar muito bem.
Uma vez mamãe me disse que conhecia minha cara de mentira – eu sempre esbocei um sorriso manso e discreto no cantinho da boca, com as mãos no cabelo e um desvio de olhar que era inegável. Ela sorria e dizia – ‘pode me dizer a verdade agora, pois na mentira eu já acreditei. ’
Mamãe sabia que a vida era dura. Sabia que uma hora ou outra eu ia descobrir as verdades sobre alguns sorrisos, alguns abraços, alguns beijos. Ela só não me avisou que seria tão duro. Até Judas vir me beijar.
Até o aperto de mão corroer os ossos e o abraço esmagar meu peito como uma prensa.
Eu precisava sentir na derme, na epiderme a dor que essa chaga trazia. E eu senti.
E o trauma foi grande, admito. Passei metade da vida tentando conhecer a pessoas antes de esperar suas reações. Em vão.
Elas precisavam temer. Só assim eu as conheceria. Em meio à necessidade é que lagarta vira borboleta, que sabe a hora certa de voar.
E eu quis voar cedo demais. Na primeira tentativa eu me vi indefesa, até quis voltar, mas eu já estava no céu diante de pássaros gigantes, assustadores, eu diria.
Já não havia mais mamãe, papai... Era eu por eu. E o medo por mim.
E quantas quedas eu sofri... Quantos caminhos errados segui.
Tanta gente perversa eu confiei.
Os sorrisos eram tão reais... Seria cruel demais eu desconfiar de gente tão boa.
Seria mesmo, mas a vida é cruel.
Eu não vim armada, protegida, tampouco com estratégia nas mãos.
Vim só com os vestígios do casulo ainda presos às minhas asas, algumas dezenas de conselhos clichês e a saudade de casa.
Casa... Ah! Que vontade de voltar...
Esconder-me dos cruéis, das ciladas, das aves gigantes, dos atores.
Filtrar cada sorriso, cada palavra. Absorver só as que transpareçam sinceridade.
E como saber se os que elas transparecem, de fato, são transparentes?
Eu nunca soube. Nunca fui boa atriz. Não distingo uma boa mentira de uma má verdade. Mas já sei me proteger,
E dessa vez não foi mamãe quem me ensinou...
Foram os medos das aves gigantes e dos atores cruéis.
A eles sou grata pela experiência adquirida,
E sou ressentida pela dor sutil e lenta que eles me causaram.
Se cuida. Veja bem. Tira a mão daí. Já ta tarde, não acha? Mãe, eu não quero! É gostoso, prova.. Não acha que já está grandinha demais pra isso não? Você é muito nova ainda..
Não é assim, veja como eu faço. É, melhor não seguir o exemplo da família. Seca esse cabelo, menina! Ta frio, vai sair assim? Eu te amo. Eu também. Eu também o que? Te amo.
Sinto muito, da próxima vez eu acerto. Errei de novo, droga. Calma filha, tenha fé. Eu sei, eu vou conseguir. Biscoito? Eca. Você é muito louca.
Vamos beber água em outro lugar, alguma que seja mais líquida. Você ta fofa hoje, o que houve? Marííí, joga vídeo-game comigo?
Se decide, menina. Ninguém demora tanto pra se arrumar... Já arrumou seu quarto? Essa é sua mala, vai morar em outro país? Ta escrevendo o que ai? Você ta bem? Não fala assim com seu irmão. Não se mete na minha vida. Conta uma história pra mim? Põe a mão pra eu segurar. Tem que ver os brincos Ploc 80 que eu comprei, iguais aos seus. Eu chorei muito hoje, minha vida é um lixo. A minha também. A gente ta assim porque? hahaha. Ela escreve, sabia? Igual ao pai. Diferente da mãe. Diferente de todos.
Lembrou? Não né? Irresponsável! Ah, a minha filha? É super responsável.
Cresceu hein. Olha só como ela está! Vai aonde assim? Quando a gente vai saber? Mariana, vai de vestido? Amiga, eu preciso de você! Vou à igreja, tchau.
Cara de boooi, sua maluca. Vê se me liga ta? Ai ai, esse telefone não toca! Droga. Droga.
E essa vida, e eu? Mistura tudo e acrescenta as letras, R I N A M A A, na ordem certa, claro.
E quem sabe os diálogos me definam, e as incertezas estejam certas?
Ok, agora pode dormir, amanhã tem aula. Eu já estou de férias. A gente nunca vai se separar. É pra sempre. Que saudades. Quanto tempo. Quanto frio. Quantas mentiras.Eu te amo.Eu não minto. Verdade. Eu te amo. De novo.
Aprendi a abrir as asas quando ainda nem havia sido gerada,
Aprendi a correr antes de andar.
Sonho com a vastidão dos céus, mas não troco nada pela pequeneza de ser quem sou.
Acredito que tudo que acontece tem um propósito, se não eu não estaria aqui, vivendo como vivo.
E idealizo. Idealizo tudo para dar certo, monto milhares de quebra-cabeças num só instante, penso mais do que qualquer outro mortal.
Sou completamente diferente do que você se acostumou a gostar, vou te fazer ser curioso até descobrir quem sou de verdade. E isso pode te irritar, te fazer desistir.
Aos que chegam lá, na minha vida descansam por muito tempo.
O espelho me mostra um lado que às vezes eu desconheço. Casca que abriga muito mais do que um corpo. Abriga sonhos, pensamentos, saudades, lembranças, sorrisos, lágrimas, abriga tudo que eu construí através do tempo.
E eu gosto de voar. De 0h às 5h da manhã. Sou só eu, a lua e o ar.
E quando o sol aparece, eu tenho que voltar, esconder as asas que me levitavam no ar.
Não, eu não sei voar.
Nem tudo que penso é dito, mas tudo que digo, eu penso.
Eu pensei que seria legal se fosse verdade, mas não é.
Nesse horário eu vôo de uma outra forma, não menos eficiente.
Sou quase um pássaro decadente de asas, mas alguém que voa com os pés no chão.