quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Céu dourado

Vai ver o acaso esqueceu-se de nós. Todo amor sublime, todo beijo que tinha voz própria então se fez um mar sem fim e sem volta. Era um amargo adeus daqueles que nunca vão embora.

Foi preciso morrer a flor para que pudessem tomá-la nas mãos e ver o quanto era linda viva, mas hoje, hoje a flor é pura matéria adormecida que ainda chora a ferida do seu próprio espinho. Era o caminho mais arriscado confiar no amor. E do risco, do desenho, nasce todo e qualquer tipo de encantamento, e já era hora de murchar a flor. Tão triste ver teus sonhos bonitos virarem pétalas murchas, a mercê do tempo, que apagará todo o perfume com o vento, e levará toda a magnitude que ali havia.

Amor não sobrevive de beleza, porque assim como o resto das coisas não palpáveis, ele também se esvai como o dia e noite. Às vezes, dura bem menos que um solstício qualquer.

Mas nunca morre.

Eu aprendi a buscá-lo sempre na sua fortaleza, porque se renova o amor a cada dia, mesmo no meio de lama e lágrima. Eu não quero deixá-lo ir assim de vez, era nos olhos que eu olhava e hoje as costas me cortam a alma e estampam em mim a mediocridade de amar alguém. Porque quem ama não se envaidece, não se cansa, não se anula, pelo fato de precisar existir e de fazer com que cada minuto seja uma vida inteira.

Guarde então um espaço no peito para todo amor que quiser ser bem vindo. Mas saiba, eles te farão sofrer sem saber, sabendo. Farão-te sorrir sem querer, querendo. Farão-te sentir saudade por estarem perto, e por não mais estarem no coração. Então o amor se eleva ou se diminui à saudade.

Saudade é todo o amor que fica.

O acaso então desvia as folhas, carrega os horizontes pra longe, e quanto mais se busca, mais longe fica. Eu o vejo agora ali, bem ali em meio às saudades. Dorme tranqüilo, feliz.

E é amarga a dor do acaso atrevido, malvado. Não havia dito a ninguém que a vida seria assim.

Então eu me escondo e por vezes, me esqueço. Que é pra sentir bem no fundo a dor de ter alguém dormindo ao lado. Que é pro amor chorar baixinho entre as estrelas e o céu dourado de tanto amar sozinho. Que é pra vida se tornar um sonho engraçado, que se sonha acordado em encontrar um novo caminho.

E há de se viver vivo!

Há de pestanejar, chorar. E não temer mal algum, porque o mesmo amor que afugenta, abriga. O mesmo que faz chorar, livra. Aquele mesmo que faz sonhar, desperta.

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